sábado, 20 de novembro de 2010

Caldas revisitada

Palavras para quê? Este texto do Fernando Santos leva-nos numa viagem ao passado.

"Um dia a maioria de nós irá separar-se..." Era este o início dum belo texto de Fernando Pessoa que o Maximino enviou há dias para o Blogue da Escola.
Com alguma nostalgia confesso que faço parte dessa maioria. Saí das Caldas em 1961 e ao longo de quase cinquenta anos muita coisa se varreu da minha memória. Todavia alguma coisa ficou.
Na segunda metade dos anos 50 trabalhei no Bairro da Ponte para o Vasco de Oliveira que era agente da Mediator e Siemens, para o Manuel Lourenço agente da Loewe opta, (creio que se escreve assim) para o Gomes da Traviata novo agente da Siemens, para o Campos Fragoeiro e o Luís Piassa que tiveram uma loja na Cova da Onça, e por fim em minha casa. O Luís Girão chegou a convidar-me para trabalhar com ele antes de eu ir para a Siemens, e também me recordo do Albano Antunes na Praça do Peixe com quem nunca trabalhei.
Devo agradecer-lhe os esclarecimentos que me deu sobre a Casa Anselmo pois só me lembro da loja na Rua das Montras, e creio que em 61 ainda tinha a Philips junto com as roupas e tecidos.
As idas a Caldas foram sendo cada vez mais espaçadas. Mais para visitar os meus pais e outros familiares do que os amigos que entretanto foram desaparecendo. Visitas de pouca duração devido ao clima muito húmido e com o qual nunca me dei bem, pois mal lá chegava constipava-me imediatamente. Coisa que não tem acontecido nas últimas estadias.
Muito embora vá à terra uma vez por outra, já não conheço aquela que foi as Caldas do meu tempo. Cinemas Ibéria (onde fui Ajudante de Projeccionista ) Pinheiro Chagas, Bailes do Lisbonense, Verbenas dos Santos Populares no Largo João de Deus e Bairro da Ponte, passeios de barco no lago, Picadeiro no Parque durante o Verão ao som da Banda Comércio e Industria, ou na Praça da Fruta durante o Inverno que aos Domingos se enchia de gente após as Matinées dos cinemas, os convívios entre famílias nos cafés Invicta, Bocage, Central, Lusitano, e Capristanos. As festas de Tornada, do Campo, da Lagoa Parceira, Senhora da Luz (por aquele caminho só de areia) Foz do Arelho, Nadadouro, ( onde o Padre só deixava dançar homens com homens e mulheres com mulheres ) e o Santo Antão. ( Santo Chouriço como lhe chamávamos ) As "viagens" de comboio às praias de Salir e S. Martinho, (alguém o utiliza hoje? ) Para a praia da Foz nas Camionetas ( era assim que se chamavam ) dos Capristanos sempre a abarrotar de gente no Verão, ou de bicicleta alugada no Samagaio. Os acampamentos no Pinhal à entrada da Foz ou na Praia frente ao Lagoa Bar do Zé Felix e da tasca do Robalo, porque ainda não havia Parque de Campismo... Um rol de recordações. Não tínhamos Telemóveis nem Internet mas fomos certamente mais felizes do que os jovens de agora.
Açoteia, Bomtom e montes de casas comerciais que hoje existem nas Caldas só de ler na Gazeta. Por isso as saudades dos velhos tempos levam-me cada vez mais a tentar encontrar os poucos amigos que ainda restam, ou se possível contactar outros mais novos que me dêem notícias do passado. De há tempos para cá, as minhas companhias caldenses são a Gazeta e os blogues da Escola e do ERO.
Tudo o que lhe digo aqui e muito mais, já se encontra escrito nas minhas memórias.

Desejo-lhe um bom fim-de-semana sem frio e muito sol.
Um abraço.

Fernando Santos.

1 comentário:

Anónimo disse...

É verdade...
Também eu que nasci no Arelho do concelho de Óbidos e me lembro de ir às Caldas de burro, chegando pelo lado onde hoje se situa o Bairro das Morenas, me recordo de diferenças absolutas...
Nesse tempo, onde hoje sãos edifícios da Biblioteca e antiga UAL, existia o chamado "esterqueiro" da Câmara que era onde se situava o vazadouro do lixo...
Toda a Zona do Bairro Azul não existia como hoje nem parecida...
Nas Caldas havia diversas "garagens" para recolha dos burros, as cocheiras...recordo-me de uma entre a Rainha e a Praça do Peixe e uma outra entre a Rua Camões e a Praça da Fruta...
Na zona onde hoje é o Tribunal, a Câmara e a Igreja, existia nos inícios dos anos 50 do séc. passado apenas a Igreja...o resto foi aparecendo...
Ainda me lembro de no Largo frente à Igreja ser feita a Feira de S.João e o 15 de Agosto, como me lembro também de serem feitas nos terrenos onde hoje estão os edifícios da antiga UAL...
Quando se ia para a Estação dos CF havia para a direita um armazém da FNPT (Fed.Nacional dos Produtores de Trigo)...
Ahhhhhh...e lembro-me de a Garagem dos Capristanos (creio que antes Capristano & Ferreira)estar sempre impecável sem um pingo de óleo no chão...
Lembro-me de toda aquela zona entre o cais dos CF para norte ser constituída por casas isoladas e os terrenos todos devidamente agricultados...
Bem isto de sermos velhos, sempre tem a vantagem de conhecermos coisas de que os mais novos já nem vão ouvir falar...!!

Abraço

Maximino