quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Super Mário, Spectrum e outras tecnologias

A propósito do ultimo post sobre o Super Mário, o meu amigo Justiça puxou da caneta e da sua memória e vá de lembrar aqueles tempos gloriosos daquela máquina espantosa que foi o Spectrum.

O Spectrum

Decorria o ano de 1980. Em meados desse ano passeava os ossos pela Av. da Igreja no Bairro de Alvalade em Lisboa. Frequentei este Bairro durante 25 anos pois trabalhava na Praça de Alvalade no edifício do Centro Comercial dividido por duas Empresas, a IBM e a Profabril e, claro está, o Centro Comercial de Alvalade.
O Bairro era o maior Centro Comercial, ao ar livre, que existia na Capital. Ali encontrava-se de tudo, desde simples oficinas de sapateiro, já raras na cidade, até sofisticados Bancos, cinema, igreja, enfim, tudo.
Num fim de manhã de um qualquer sábado fui com a minha cara-metade ver as montras. Tinha finalmente mudado de casa, de um apartamento T2 na Reboleira de construção J. Pimenta e 10 andares, morava num 8º. Andar de um prédio com 2 elevadores e que tinham a particularidade de, ou funcionavam os dois ou avariavam os dois. Cansado de muitas vezes subir pelas escadas, particularmente ao final de um fim de semana na terrinha, chegava com as batatas, peixe, cebolas, etc., as malas com as roupas de 4 pessoas, já tinha duas filhas, carrinho de bebé, e demais panóplia inerentes e necessárias para um fim de semana e lá tinha de subir e descer, por vezes em duplicado. E porque o espaço já se tornava acanhado resolvi comprar um andar T4 em local mais acolhedor e bonito numa casa de 3º. Andar, sem elevador.
Nesse sábado de ver montras dei de caras com uma montra onde estava um aparelhozinho ligado a uma TV. No ecrã passava uns bonecos que iam mudando conforme se comandava o tal aparelhozinho. Entrei na loja e o dono veio ter comigo, já me conhecia de vista através dos meus passeios de queimar o tempo, na hora do almoço. Perguntei o que era aquilo e ele passou a dizer-me que era um PC. Ri-me, pois os PC’s que á altura conhecia tinham dois braços e duas pernas e a cabeça cheia de ideias revolucionárias e importadas. Após esta brincadeira, passou a explicar-me mais detalhadamente as funcionalidades, até que, ás páginas tantas, lhe referi que isso fazia o computador da Empresa onde trabalhava só que este ocupava um salão enorme. O bichinho ficou a roer-me todo o fim de semana.
Saí da loja, agradecendo o tempo que me foi dispensado e com eram horas de almoço fomos almoçar ao restaurante Pomar de Alvalade na Rua Marquesa de Alorna onde era comensal, isto é, almoçava lá todos os dias e fazia as contas com o Sr. Manuel e a D. Maria, donos da casa, no fim de cada mês, deixando-lhes apenas, todos os dias, o Ticket Restaurante. Saberão com toda a certeza o que é almoçar em restaurantes acompanhado por duas crianças, nem vale a pena a descrição. Primeira dificuldade a “escolha de prato” para elas, depois o comportamento, etc. etc., mas a D. Maria tinha sempre uma solução para este freguês de todos os dias.
Ás tantas entra pelo sala o Paulo, filho o Sr. Manuel e D. Maria, aos “toques” numa bola, não me admirei pois era prática frequente. Era na altura, menino de instrução primária e que demonstrava uma farta paixão pelo futebol. Deixei de frequentar aquela zona em 1998, porque o Governo vendeu a Empresa onde eu trabalhava, para colmatar as suas dívidas á UE, sem se preocupar que atirava para o desemprego mais de 600 técnicos e só voltei a saber do Paulo quando o vi na TV a envergar as cores do Sporting, com o nome de Paulo Bento. Fiquei curioso e satisfeito por saber da sua carreira, tanto no Sporting como na Selecção Nacional e concluí, dadas as recordações do passado recente, que só poderia ser assim, o rapaz estava fadado para ser um grande futebolista. Hoje só poderei dizer, “Paulo, boa sorte com a Selecção”.
Mas voltando ao tal aparelhozinho. Era um computador ZX Spectrum. Claro que na segunda feira seguinte fui comprá-lo. E com ele um gravador/leitor portátil de cassetes que era o meio usado para carregar e gravar programas. Não precisava de aparelho TV porque a da cozinha chegava e servia muito bem.
Ao fim do dia e “em pulgas” para chegar a casa e experimentar o novo brinquedo - não há dúvida que somos crianças toda a vida - lá fui “roubar” a TV da cozinha, perante o olhar reprovador da “dona da casa” mas lá expliquei que antes de comprar nova TV teria de saber se “aquilo” resultava. Ficou mais aliviada pois a ausência do “aparelho dos bonecos” na cozinha afinal era temporária. Se me deitei nessa noite? não me lembro. Mas aquela “coiseca” até escrevia no ecrã da TV, e gravava na fita do gravador. Eureka!
Pela manhã voltei a colocar a TV na cozinha e fui trabalhar. Quer dizer, estive presente no local de trabalho mas com a cabeça noutro local e a leitura do livro de instruções á frente, aberto na secretária, onde fiquei a saber que aquele “bichinho” utilizava uma linguagem que para mim era totalmente nova. Basic. Zeros e uns que colocados adequadamente formavam uma palavra escrita. Então vai de aprender esta escrita para poder “comunicar” com o “bicho”.
O tempo decorreu “de nova em nova” descoberta e um dia fui a Madrid, Espanha, em trabalho, e numa loja de informática dou de caras com um programa de “Desenho Assistido por Computador”. No ecrã da TV passava um programa em que aparecia a planta de uma casa, alçados e cortes, feitos pelo tal PC. Ora isso era a minha área de trabalho. Era uma paixão que já vinha da Escola Comercial e Industrial de Caldas muito por culpa do saudoso Engº. Piriquito.
Chamava-se o programa “TurboCad” e logo ali tinha de ser meu. Custou-me os olhos da cara. Dava para comprar vários computadores. Novamente surgiu aquela ansiedade de chegar ao meu cantinho para experimentar o programa. E “qual criança” de mente aberta para novos experimentos foi quase a primeira coisa que fiz á chegada. Por sinal tinha recebido uma encomenda para projectar uma moradia tipo “duplex” e cujo projecto já tinha delineado á mão. Resolvi, e ainda bem, tentar o tal “Desenho Assistido por Computador”. E não é que me saiu bem. Obrigou-me a adquirir uma impressora, daquelas que faziam um ruído que mais parecia o rasgar de papel, com buraquinhos de cada lado e folhas contínuas. Daí a imprimir a “obra”, e a escrever a Memória Descritiva foi um passo.
O pior estava para vir. A Câmara Municipal aceitar “aquilo” como projecto. Podia lá ser! Um projecto executado por uma máquina! A minha insistência foi forte e cabal em explicações que o caso foi levado ao Presidente para ser ele a anuir ou rejeitar o trabalho. Era nessa altura Presidente da Câmara o Sr. Rui Coelho, outrora colega da Escola. Mente aberta, logo ali ficámos á conversa pois queria saber mais sobre esta nova forma de desenho. Com um comentário final – Se calhar isto é o futuro – o projecto lá ficou para aprovação. A casa ainda está de pé e foi a primeira de muitas outras que ao longo da minha carreira elaborei.
É claro que o Spectrum, com o decorrer do tempo, ficou obsoleto para mim e para gáudio da pequenada cá da casa foi posto de parte e elas ficaram com um brinquedo novo e avançado para a época.
O Amstad já vinha com monitor incorporado, era mais rápido e eficaz mas, como não podia deixar de ser também passou de moda e foi substituído e assim aconteceu com o seguinte e com o seguinte … add eternum.
Alfredo Justiça

Um abraço meu Amigo e obrigado pela tua colaboração.

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