No início da semana fui visitado na minha loja por um cliente que pretendia umas pilhas. Inicialmente não me apercebi que o cliente era um antigo colega da Escola Primária, embora este amigo tenha a sua morada nos arredores, talvez porque ele trabalhava numa fábrica, há vários anos que não nos cruzávamos.
Fiquei espantado porque este amigo lembra-se dos nomes, quase completos, da maior parte dos colegas que como eu iniciaram as lides escolares em 1959/60, já lá vão 50 anos.
Conversa puxa conversa, mostrei-lhe as fotografias da primária, que tenho digitalizadas no computador.
Foi comovente a emoção que o meu amigo sentiu. Contou que nunca tinha visto estas fotos, pois dizia ele, “naquele tempo não tinha dinheiro para comer quanto mais para fotografias”.
Falou-me nos pés descalços, nas idas à cantina escolar, para uma refeição quente, muitas vezes a única do dia e de muitas dificuldades por que passou.
Quando agora se fala em crises, fico a pensar que temos a memória curta.
Felizmente o meu amigo foi à luta e ultrapassou estes tempos difíceis, e eu faço questão de lhe oferecer as fotos que ele nunca teve.
5 comentários:
E eu que, pelos vistos, já sou de um tempo em que os meninos têm tudo emociono-me com esta história, por sentir que cada vez mais recordar é, também, uma forma de andar para a frente.
No tempo em que andava na primária também tinha uma colega, da Lagoa Parceira, que de inverno andava com sandálias (ou descalça...)
Este post emocionou-me tanto...
Óptimo testemunho de uma época cinzenta da nossa História recente, que alguns teimam em apagar ou pintar com as cores ofuscantes da fantasia.
Pois é, ao ver a «marca» de algumas «sapatilhas» do pessoal, dá para entender como era a verdadeira miséria num passado tão recente afinal,e que alguns teimam por vezes em glorificar.
Não tenho fotos dessa época, pois a minha primeira máquina fotográfica apareceu muitos anos mais tarde lá em casa, no principio de 70, e desapareceu passado muito pouco tempo, ao deixá-la descuidadamente na borda de uma piscina em Luanda corria o ano de 75. Felizmente que na altura apenas se guardavam no interior um máximo de 24 ou 36 imagens, senão, não teria o espólio que tenho hoje do periodo da nossa passagem por África.
Os nossos pais, dentro das suas limitações, contaram-nos como foi, os nossos filhos deveriam todos ver estas imagens. E era bem pior nas aldeias logo ali ao lado.
Esta historia recorda-me tantas outras historias como esta que ouvi contar na minha aldeia do Alentejo...felizmente que sao tempos ja passados
rita ramos
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